sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Bolinho de chuva.

Chuva deveria ser algo triste pra mim, quando eu era criança.
Quando chovia, lá na escolinha, não podíamos birncar. Nada de se enfiar na areia, ou enfiá-la em nossas roupas, nada de escorregador, balanço ou tamarindo.
Mas não era. Era tradição, sempre que chovia, na escola fazer bolinhos de chuva. As professoras nos deixavam desenhando algo e se juntavam na cozinha. Depois de algum tempo, voltavam com os bolinhos cheios de um açucar que nos fazia melar as mãos e as roupas e adocicava o tédio e a melâncolia da chuva.
Acho que aprendi a acreditar em bolinhos de chuva desde esse tempo.

Olá.

Meu nome é Instar.
Foi minha mãe que escolheu. Ela achou bonito, e meu pai também, então ninguém se opôs. Nem mesmo meus avós, que acharam meio estranho. Sou a irmã mais velha. Tenho mais uma irmã, o nome dela é Artemis. Meus pais tem mesmo gosto pelos nomes estranhos. Talvez tenham querido começar uma tradição ou algo assim, mas desde crianças eu e minha irmã decidimos pôr nomes fáceis em nossos filhos. Talvez tudo ficasse mais fácil assim.
Não sei bem porque quis começar este blog.
Eu gosto de escrever. Mas não é que o faça sempre, tem bastante coisa pra se fazer aui em casa, principalmente com minha mãe aqui. Ela me chama a toda hora. Quando não me chama, fico ao lado dela mesmo assim. É sempre assim nas férias. Talvez esteja tentando compensar um pouco o tempo que não passo com ela...
Acho que vim aqui pra contar umas histórias boas que tenho ouvido. Sempre. Muita gente me conta. Eu me pergunto se algum dia vou ter uma história própria...Enquanto isso, vou pondo estas.

Hoje fui cozinhar junto com a Ignácia. Ela trabalha aqui em casa há mto tempo. ela é uma ótima cozinheira. Nunca estudou, mas sabe muito mais que eu e Arti juntas.
Hoje, enquanto cortava maçãs e colocava dentro de uma panela, pra fazer sobremesas, tivemos um problema com o fogão, não acendia. Ficamos tentando ligá-lo, mas nada. Quando eu já estava quase desistindo de cozinhar, ela tomou uma caixa de fósforos nas mãos, e acendeuo fogão. Ela é de uma época em que os fogões não eram elétricos e fez tudo parecer muito natural. E me fez sentir muito burra.
Mas antes que eu começasse a pensar nisso ela parou com um fósforo aceso na mão. E disse:
-Você sabe quem inventou o fogo?
- Hum...não...Você quer dizer quem descobriu o fogo né? Deve ter sido um homem das cavernas.-respondi.
-É, mas ele não só descobriu o fogo, foi ele quem o inventou.
- Como é que se inventa o fogo?
- Ele descobriu o fogo em uma noite de tempestade de raios, uma ;uz forte desceu do céu, fulminante, até uma árvore. Quando ele foi até a árvore descobriu, dentro d0 tronco recém partido pela luz misteriosa, uma pedrinha. estava quente. Quanto tocou a pedra ele viu.
- Viu o que?
- O fogo.
- Fogo na pedra?
- Não, ele viu na cabeça dele. Ele viu o fogo, e viu tudo. Todos os usos que o fogo teria na mão dos homens. Ele viu fogueiras, viu metais derretidos, viu cidades em chamas, viu lâmpadas, viu indústrias, fábricas, bombas, metrópoles cheias de luzes incandescentes como aquele fogo. Viu todas as comidas do mundo, esquentadas pelo fogo. Viu incluzive as maçàs assadas que vamos fazer.
- Nossa...
- É...
- E aí?
- E aí que ele ficou com medo. Não sabia se deveria esplicar aos seus companheiros oq ue vira. Não sabia nem como esplicar. Você sabe que os homens da caverna não falavam muito, não é? Eles não eram como nós. Ele ficou com medo do que viu, e largou a pedra. Quando soltou a pedra viu que a árvore estava em chamas. Mas a chuva logo começaria e o fogo se apagaria.
Seguiu-se um silêncio no qual ela avaliou as maçãs.
- E o que acontece no final dessa história Ignácia?
- Você sabe.
- Como? Não sei não, oras.
- Oras? Ora, ele pegou a pedra e viu o final. Viu novamente tudo até o final, toda a história, todas as histórias. E levou um galho com fogo para seus companheiros. Haviam muitos dentro de uma caverna. Ele lá chegou sem muito alarde. Os outros acharam as chamas incríveis. Mas Ele não disse nada. Juntou alguns gravetos fez uma fogueira. Empurrou todos para perto dela e lá eles ficaram, aquecendo-se. Sem trocar uma palavra. Ele sorria tranquilamente enquanto via o calor fazer com que seus rostos se dobrassem em um sorriso calmo.
- E então?
- E entã pronto. O fogo foi inventado! Não estamos aqui acendendo o fogão? O que ensinam pra vocês nas escolas hoje?

Definitivamente nada daquilo que ela me falou.